Morreu aos 34 anos, vítima de pancreatite grave, o médico acreano indígena Ornaldo Baltazar Sena Ibã, do povo Huni Kuin, na última sexta-feira (15) em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Ele era emergencista da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) 24h do município do estado gaúcho, e não resistiu às complicações da doença.
O profissional da saúde nasceu na Aldeia Novo Segredo, em Jordão, distante a mais de 450 quilômetros da capital acreana, foi aprovado aos 22 anos em Medicina na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, onde cursou a graduação entre os anos de 2012 a 2018. Desde a pandemia de Covid-19, ele atuava na unidade de Santa Maria, onde começou sua residência médica.
Em 2017, Ornaldo fez intercâmbio na Universidade de Córdoba, na Espanha, onde adquiriu fluência em espanhol e inglês. Além disto, foi médico assistente no Distrito Sanitário Indígena em Roraima pelo programa Mais Médicos para o Brasil, e desde 2021, integrava o Programa de Residência em Medicinal de Emergência do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM/UFSM).
Ornaldo era emergencista na UPA 24 horas de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde atuava desde 2020, quando era residente — Foto: Arquivo pessoal
Diversas instituições médicas e coletivos indígenas demonstraram pesar pela morte do médico acreano. A Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede) divulgou uma nota lamentando a morte precoce do profissional, e destacou o desejo do jovem de retornar à comunidade indígena onde nasceu para aplicar os conhecimentos adquiridos.
“Dr. Ornaldo planejava dedicar sua carreira à saúde indígena no Acre, retornando à sua terra natal para servir sua comunidade com o conhecimento adquirido. Neste momento de luto, expressamos nossas mais sinceras condolências à família e a todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Que sua determinação e compromisso com a saúde brasileira representem um legado de esperança e inspiração para todos os jovens médicos brasileiros”, diz a postagem.
Já a Associação Franciscana de Assistência a Saúde (Sefas) destacou a simplicidade e alegria do profissional em exercer a medicina com amor e zelo.
“Manifestamos nossos sentimentos aos familiares e amigos do Dr. Ornaldo, querido por todos e admirado pelo profissionalismo, alegria, solidariedade e bom coração. Ornaldo veio de longe para fazer sua residência em Santa Maria e atuava na UPA desde a pandemia. É com profunda tristeza que nos despedimos dele. Pedimos a Deus que possa fortalecer os corações na superação desta lamentável perda”, complementou.
O Coletivo Indígena da UFSCar, universidade a qual ele se formou, também prestou as condolências a amigos e familiares. Na ocasião, frisou que ele era inspiração e voz em prol dos direitos indígenas. Durante a carreira, Ornaldo foi um dos protagonistas na organização e construção do 1º Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas no Encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) Indígena (2015).
“Sua partida deixa um vazio imenso em nossos corações e sua ausência será profundamente sentida em nossos encontros e lutas futuras. Ornaldo era uma luz brilhante em nosso coletivo, sempre compartilhando sua sabedoria, sua gentileza e seu compromisso com a causa indígena”, lamentou.
O corpo de Ornaldo chega na capital Rio Branco na noite deste domingo (17), onde será velado e sepultado na segunda-feira (18) no cemitério Morada da Paz.