Após voltar a transbordar menos de um mês depois da cheia histórica do Rio Tarauacá, que cobriu mais de 80% da zona urbana de Jordão, um dos municípios isolados no interior do Acre, o nível das águas reduziu na manhã deste domingo (24). Na medição das 8h, segundo a Defesa Civil do município, o rio marcou 6,10 metros e saiu da cota de transbordo, que é de 7,50 metros.
Com o transbordo do Rio Tarauacá, o município de Jordão viveu a maior enchente de sua história entre os dias 23 e 27 de fevereiro de 2024. Cerca de 80% da cidade foi coberta pelas águas, incluindo o único hospital da região e mais de 5 mil moradores foram afetados. A Prefeitura chegou a decretar estado de calamidade pública por causa da situação, inédita até então. O manancial chegou a marcar 9,55 metros, dois acima da cota de transbordo de 7,50 metros. No mesmo período, outras 18 cidades acreanas também chegaram a decretar situação de emergência por causa da cheia de rios e igarapés.
Apesar do início de vazante, 72 famílias ainda seguem nos abrigos montados em escolas do município, segundo a coordenadora Maria José Feitoza. Foram 650 pessoas afetadas pela subida e novo transbordamento do rio, de acordo com o órgão.
“Não choveu entre o sábado e domingo no município, e a previsão para a semana é que continue baixando. Algumas famílias já começaram a voltar para suas casas, mas permanecem as dos abrigos’, explicou a coordenadora.
A dona de casa Vilanir Souza foi uma das moradoras que retornaram para casa neste domingo. Ela avalia que, apesar do curto intervalo de tempo entre uma enchente e outra, a segunda teve impacto menor. Ela relembra que perdeu alguns móveis e outros conseguiu salvar, e agora, mais uma vez, vai precisar limpar a casa atingida pela cheia do rio.
“Tem menos de um mês que a gente passou pela alagação, e agora a gente voltou. Um mês, na verdade, que tinha acontecido a alagação, aconteceu outra. O nível foi maior, e essa não foi tão alta, graças a Deus. A gente teve que tirar algumas coisas, outras atrepar [sic]. E agora, é só cuidar da limpeza e seguir em frente”, conta.
Indígenas que ficaram abrigados em um centro cultural no município também começaram a voltar para casa neste domingo. Lair Kaxinawá, que mora no Centro de Jordão, conta que ficou junto com a família no abrigo e comemora a descida do nível do rio.
“Eu moro no Centro, que o rio atingiu também. Vim para o centro de cultura, mas daqui a pouco a gente vai voltar ´[para casa], porque o rio já está começando a vazar. Vim mais minha prima, minhas cunhadas, e estamos aqui, mas daqui a pouco nós vamos organizando”, relata.
O problema começou na madrugada deste sábado (23), segundo a Defesa Civil Municipal, e, inicialmente, deixou 16 famílias desabrigadas, aquelas enviadas a um abrigo público, e 21 famílias desalojadas, ou seja deslocadas para a casa de parentes ou amigos. São 154 pessoas afetadas até o começo da tarde de sábado.
“Estamos tirando as pessoas e orientando juntamente com as equipes municipais e polícias Civil e Militar”, explica a coordenadora municipal de Proteção e Defesa Civil, .
Ainda segundo ela, a cheia agora envolve os rios Tarauacá e Jordão, que banham o município, e começaram subir por volta de 3h da manhã deste sábado. Na medição das 9h, o manancial marcou 7,65 metros, 11 centímetros acima da cota de transbordo.
Enchentes históricas
E a Defesa Civil alerta que a previsão é de mais chuvas nas próximas horas na cabeceira do Rio Jordão. O que deve aumentar ainda mais o nível do manancial.
O Acre enfrentou cheias históricas em 2024. Em todo o estado, pelo menos 23.087 pessoas ficaram fora de casa, entre desabrigados e desalojados, segundo o governo do estado.
Além disso, 19 das 22 cidades acreanas declararam situação de emergência por conta do transbordo de rios e igarapés. Quatro pessoas morreram em decorrência da cheia. Ao menos sete cidades enfrentaram problemas por causa da cheia do Rio Acre, incluindo Rio Branco, que teve a segunda maior enchente de sua história, e Brasiléia que alcançou uma nova maior marca histórica.
O Rio Juruá também causou transtornos em Cruzeiros do Sul, Porto Walter, em Marechal Thaumaturgo, onde ameaçou mais de 20 comunidades indígenas. Mais de 100 pessoas foram afetadas em todo o estado em um dos períodos de chuva mais intenso dos últimos anos.