Uma análise feita pela InfoAmazonia, com base nos dados da rede MapBiomas, aponta que há mais áreas para agropecuária do que floresta em seis dos 13 municípios acreanos pertencentes ao projeto Amacro – que engloba o sul do Amazonas, leste do Acre e noroeste de Rondônia, sendo o nome uma junção das siglas dos três estados.
Entre os municípios acreanos cujas totalidades de áreas florestais são menores que as destinadas para a agropecuária estão Plácido de Castro, Senador Guiomard, Acrelândia, Capixaba, Epitaciolândia e Porto Acre.
Considerada a nova frente de expansão agrícola na Amazônia brasileira, a Amacro reúne 32 municípios e ocupa 10% do território amazônico. Em 2022, a área foi responsável, sozinha, por mais de 1/3 de todo o desmatamento na maior floresta tropical do mundo.
No Acre, também fazem parte da Amacro a capital Rio Branco, Bujari, Xapuri, Manoel Urbano, Sena Madureira, Assis Brasil e Brasiléia. Segundo projeção, os três primeiros municípios caminham para ter o mesmo destino nos próximos anos.
“O projeto Amacro começou a ser discutido em 2018 e foi lançado durante o governo de Jair Bolsonaro para incentivar o agronegócio na região. Na prática, se tornou um dos principais motores do desmatamento no bioma”, diz reportagem da InfoAmazonia, baseada no estudo.
Acelerador da devastação
A análise cita ainda que, entre 2018 e 2022, a abertura de áreas para a agropecuária na região da Amacro disparou uma média de 5,61% por ano, mais que o dobro da média para o bioma no país. “Após sua criação, a Amacro tornou-se um dos principais aceleradores desse problema, concentrando uma parte expressiva da devastação da floresta”.
O climatologista Carlos Nobre, um dos entrevistados da reportagem da InfoAmazonia, afirma que a Amacro é, ao lado do norte do Mato Grosso e o centro-sul do Pará, a região mais crítica para a floresta atualmente, “onde mais de 90% do desmatamento ocorre para abertura de pastagens e lavouras”.
“Ali [na Amacro], se nada for feito, até 2050 a Amazônia passa do ponto de não retorno e perde sua capacidade de regeneração natural. Não existe mais nenhuma justificativa para mais desmatamento”, afirma Nobre.
Seca extrema
A região amazônica vive, hoje, uma seca severa. Todo o território acreano se encontra afetado pela estiagem, potencializada pelas mudanças climáticas. Estas, por sua vez, são causadas, entre outros motivos, pelo desmatamento.
O Rio Acre, que banha cinco municípios que integram a Amacro, entre eles a capital, já chegou, no início de setembro, a 5 centímetros da menor cota histórica. Outros mananciais vivem a mesma situação.
Paralelo à falta de chuvas, o estado sofre ainda com as queimadas urbanas e rurais e com a fumaça proveniente da prática. A Defesa Civil nacional já reconheceu situação de emergência em todos os 22 municípios do Acre.