Marcondes Silva, um dos líderes do grupo, é um exemplo vivo de transformação. Autônomo e ex-morador de rua, ele compartilha que seu envolvimento com essa missão veio de uma experiência pessoal. “Deus colocou no meu coração para trabalhar com essas pessoas. Eu vivi 15 anos nas ruas, e sei o que é ser rejeitado e tratado como se fosse invisível. O Senhor me resgatou, e eu acredito que Ele pode fazer o mesmo por muitos que estão aqui. São pessoas que têm potencial para se reerguer, podem se tornar testemunhos de transformação, assim como eu”, disse Marcondes.
Ele relembra com emoção o que viveu nas ruas e vê no trabalho missionário uma oportunidade de devolver o que recebeu. “Eu senti na pele o que eles sentem, e sei que, apesar de tudo, ninguém quer estar nessa situação. As pessoas aqui são tratadas como animais por muita gente, mas Cristo pode mudar isso. Nós não trazemos apenas comida, trazemos amor, e isso faz toda a diferença”, acrescentou Marcondes, que, junto com outros membros da igreja, realiza o trabalho voluntariamente, sem apoio do governo.
A ação semanal, além de distribuir alimentos, oferece uma palavra de fé. O grupo acredita que essa abordagem humaniza o contato e ajuda a criar laços de confiança com as pessoas que vivem nas ruas. Marcondes reforça que a missão vai além de dar comida: “Nossa estratégia é simples. Quando alimentamos o corpo, também conseguimos alcançar a alma. A comida atrai, mas o que transforma é a palavra de Deus.”
Outro ponto destacado por Marcondes é a ausência de apoio governamental. Ele afirma que o poder público deveria prestar mais atenção a essas pessoas, criar políticas de inclusão e tratamento digno. “O governo e a prefeitura precisam se aproximar, conversar com essas pessoas, ouvi-las. Cada uma tem uma história, e acredito que muitas delas podem ser resgatadas. Mas sem esse apoio, fica muito mais difícil”, pontuou.
Márcio Pereira, 52 anos, vive nas ruas há dois anos e reconhece a importância do apoio que recebe. “A gente não escolhe essa vida, cada caso é um caso. No meu, é entre eu e Deus. Não é fácil para minha família, para a sociedade, mas quando essas pessoas vêm aqui, trazendo ajuda, trazendo a palavra, é um alívio. Isso nos faz sentir que somos humanos de novo”, relatou Márcio.
Ele expressou sua esperança de sair da rua, mas também a dificuldade em quebrar o ciclo. “Não é fácil. Muitas vezes eu tento sair, mas acabo voltando. Já tentei mudar de vida várias vezes, mas algo sempre me puxa de volta. O que me dá força é saber que um dia vou conseguir, com a ajuda de Deus”, disse ele, emocionado.
A discriminação enfrentada por pessoas em situação de rua é uma barreira constante. “A sociedade nos vê de outra maneira, com preconceito, mas somos pessoas. Com mais confiança e oportunidades, acredito que a vida pode mudar. Esses irmãos que vêm aqui nos trazem não só comida, mas dignidade”, acrescentou Márcio, que afirma sentir falta da confiança e do apoio da família.
O trabalho realizado pelo grupo não apenas oferece uma refeição, mas representa uma oportunidade de reconexão com a fé e a humanidade. “Todos aqui têm suas lutas, mas com amor e apoio, acredito que podem encontrar um caminho de volta. É isso que queremos mostrar”, finaliza Marcos Silva, reafirmando seu compromisso em continuar esse trabalho que, embora pequeno aos olhos de muitos, tem feito uma grande diferença na vida de quem recebe essa ajuda.
O projeto, que não conta com apoio governamental, é mantido pelos membros da Assembleia de Deus de Cruzeiro do Sul e continuará suas ações todas as quartas-feiras, levando comida e a palavra de Deus para aqueles que mais precisam.