Em nota, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), disse que está confiante na Justiça e segue cumprindo agenda normalmente após a Procuradoria-Geral da República (PGR) pedir ao Superior Tribunal de Justiça (STF) pedir que ele seja imediatamente afastado do cargo.
PGR pede afastamento de Gladson Cameli (PP), governador do Acre
Quem é Gladson Cameli? Governador do Acre que teve pedido de afastamento feito pela PGR
Ptolomeu: entenda operação da PF que mira corrupção na cúpula do governo do Acre
O pedido faz parte da denúncia oferecida na terça-feira (28) pela PGR contra Camelli e outras 12 pessoas pelos crimes de peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A decisão caberá à ministra Nancy Andrighi.
Cameli está com uma comitiva estadual na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), que ocorre em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, entre 30 de novembro e 12 de dezembro.
"Diante das publicações recentes veiculadas na imprensa acreana e nacional acerca de denúncia da Procuradoria-Geral da República, e, consequente pedido de afastamento do exercício do mandato, o governador Gladson Cameli mantém sua confiança na Justiça, mantendo-se à disposição para quaisquer esclarecimento, bem como permanece cumprindo suas obrigações como chefe do Poder Executivo do Estado do Acre", disse.
'Pedido arbitrário'
Pedro Ivo, advogado do governador Gladson Cameli, disse em vídeo que não há nada de novo no processo que justifique o pedido de afastamento do governador e que tem certeza que será indeferido.
“Esse pedido de afastamento é arbitrário, absurdo. Não há nenhum fato novo que justifique esse pedido de afastamento, ele decorre de um outro que já havia sido indeferido pelo Superior Tribunal de Justiça, e, além de tudo, foi feito na vacância do cargo de Procurador da República. Essa investigação é toda ilegal, ela decorre de uma devassa realizada pela Polícia Federal de Cruzeiro do Sul sem que tivesse competência para investigar o governador Gladson Cameli. Para se ter uma ideia, quebraram o sigilo de uma criança de apenas 7 anos de idade, o filho do governador. E não há nenhuma ilegalidade atribuível ao governador Gladson Cameli. As obras foram todas executadas, entregues ao povo do Acre, que reelegeu Gladson no primeiro turno. Esse pedido de afastamento é uma afronta ao mandato conferido pelo povo do Acre. O governador Gladson Cameli confia no Poder Judiciário, no Superior Tribunal de Justiça, fará sua defesa e tem a convicção de que ao final esse pedido vai ser indeferido”, disse.
Denúncia
No documento, de 175 páginas, o subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos afirma que, desde 2019, Gladson Cameli comanda um esquema de fraude em licitações. A PGR aponta fraudes ou direcionamento em pelo menos oito contratos firmados nos últimos anos pelo governo do Acre. O prejuízo estimado é de R$ 150 milhões.
A PGR afirma que o esquema começou a operar em 2019, quando o governo do Acre assinou um contrato de manutenção predial com uma empresa de engenharia, no valor de R$ 24,3 milhões.
De acordo com a denúncia, "um dia após celebrar contrato milionário com o Estado do Acre, a empresa sem qualquer know-how específico da localidade de execução dos serviços, contratou indiretamente e de forma velada a empresa do irmão do governador, a qual igualmente não possuía atividade no Estado do Acre e passou a receber vantagens advindas da execução do pacto com o governo estadual".
A PGR afirma que "as evidências são claras de que Gledson Cameli, irmão do Governador, conhecia a empresa e realizou com seus sócios e os demais coautores um pacto para dividir a execução e os lucros decorrentes do contrato".
Pelo menos R$ 4,4 milhões teriam sido repassados às empresas controladas direta ou indiretamente pelo irmão do governador, segundo a PGR.
A denúncia indica que, a partir do direcionamento deste contrato, houve um sobrepreço R$ 8,8 milhões e um superfaturamento de R$ 2,9 milhões. A PGR destaca a participação de outros agentes públicos no esquema, entre eles o secretário de Infraestrutura, Thiago Rodrigues Gonçalves Caetano.
Durante a investigação, a PGR identificou nove transferências de valores entre a construtora contratada pelo governo do Acre e a empresa do irmão do governador, totalizando R$ 1,6 milhão. A denúncia diz ser "inegável o desvio dos recursos públicos, os quais deveriam ser empregados na execução das obras, mas foram desviados em favor de familiares do Governador do Estado".
A PGR afirma que o dinheiro desviado beneficiou diretamente o governador do Acre e parentes dele. Segundo a Procuradoria, as empresas investigadas pagaram parcelas do financiamento de apartamento de luxo Gladson Cameli, em São Paulo, parcelas do financiamento de um carro de luxo dele e propina para Eládio Messias Cameli Júnior, irmão do governador.